A Rebelião contra o Estômago

Tentando arrumar o monte de papel que tenho guardado nas prateleiras e armários do meu quarto, achei algumas crônicas associadas à alimentação. Obviamente, que não escritas por mim, mas provenientes das minhas aulas de alimentação, saúde e cultura...
Segue abaixo uma delas. Espero que gostem. Enjoy!

A Rebelião contra o Estômago
(Não sei quem é o autor)

Uma vez um homem sonhou que suas mãos, pés, boca e cérebro começaram todos a se rebelar contra o estômago.
"- Sua lesma imprestável! - as mãos disseram. - Nós trabalhamos o dia inteiro, serrando, martelando, levantando e carregando. De noite estamos cobertas de bolhas e arranhões, nossas juntas doem e ficamos cheias de sujeira. Enquanto isso, você só fica aí sentado, pegando a comida toda!"
"- Nós concordamos! - gritaram os pés. Pense só como nos desgastamos, andando para lá e para cá o dia inteiro. E você só fica se entupindo, seu porco ganancioso, cada vez mais pesado para a gente carregar."
"- Isso mesmo! - choramingou a boca. De onde você pensa que vem toda a comida que você tanto ama? Eu é que tenho que mastigar tudo e, logo que termino, você suga tudo aí para baixo, só para você. Você acha que isso é justo?"
"- E eu? - gritou o cérebro. - Você acha que é fácil ficar aqui em cima, tendo que pensar de onde vai vir a sua próxima refeição? E ainda por cima, não ganho nada pelas minhas dores todas."
Uma por uma, as partes do corpo aderiram as reclamações contra o estômago, que não disse coisa alguma.
"- Tenho uma idéia! O cérebro finalmente anunciou. Vamos todos nos rebelar contra essa barriga preguiçosa e parar de trabalhar para ela."
" - Soberba idéia! - todos os outros membros e órgãos concordaram. - Vamos lhe ensinar como nós somos importantes, seu porco! Assim, talvez, você acabe fazendo algum trabalho."
E todos pararam de trabalhar. As mãos se recusaram a levantar ou carregar coisas. Os pés se recusaram a andar. A boca prometeu não mastigar nada nem engolir nem um bocadinho. E o cérebro jurou que não teria nenhuma idéia brilhante. No começo, o estômago roncou um pouco, como sempre fazia quando estava com fome. Mas depois ficou quieto.
Nesse ponto, para surpresa do homem que sonhava, ele descobriu que não conseguia andar. Não conseguia segurar nada mais nas mãos. Não conseguia nem abrir a boca. E, de repente, começou a se sentir bem doente.
O sonho pareceu durar vários dias. A cada dia que passava, o homem se sentia cada vez pior.
" - É melhor que essa rebelião não dure muito - ele pensou - senão eu vou morrer."
Enquanto isso, mãos, pés, boca e cérebro só ficavam à toa, cada vez mais fracos. No início se agitaram um pouquinho, para escarnecer do estômago de vez em quando; mas, poucos depois, não tinham mais energia para isso.
Por fim, o homem ouviu uma vozinha vinda da direção dos pés.
"- Pode ser que estivéssemos enganados - eles diziam - talvez o estômago estivesse trabalhando o tempo todo, ao jeito dele."
"- Estava pensando a mesma coisa - murmurou o cérebro. - É verdade que ele fica pegando a comida toda, mas parece que ele manda a maior parte de volta para nós."
"- Devemos admitir nosso erro - disse a boca - o estômago tem tanto trabalho a fazer quanto as mãos, os pés, o cérebro e os dentes."
"- Então, vamos todos voltar ao trabalho! - gritaram juntos. E, nisso o homem acordou.
Para seu alívio, descobriu que os pés estavam andando de novo. As mãos seguravam, a boca mastigava e o cérebro agora conseguia pensar com clareza. Começou a se sentir melhor muito melhor.
"- Bem, eis aí uma lição para mim... - ele pensou, enquanto enchia o estômago de café e pão com manteiga, de manhã. - ... Ou funcionamos todos juntos, ou nada funciona mesmo."

Por mais simples ou aparentemente incapaz que uma pessoa possa ser, ela é importante num grupo. Celebrar e aproveitar as diferenças de cada um é uma atitude sábia. As pessoas são diferentes, têm ritmos diferentes, pensam e agem diferentemente, mas são capazes. Basta estarem colocadas no lugar certo.

Um comentário:

  1. Oi, Carol,

    Gostei da crônica, a gente - muitas vezes - é mesmo pouco perceptivo quanto à importância de certas pessoas ou circunstâncias.

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